Pintura de Segunda: O Violeiro, de Almeida Júnior.

Almeida Júnior (1850-1899) é um dos mais representativos artistas brasileiros, e para estrear as publicações por aqui na Sala de Arte, vou começar com ele e com essa obra que eu gosto muito: O Violeiro, produzida no último ano de vida do artista. Mais do que um pintura da gente simples do interior de São Paulo à época de Almeida Júnior, ela é parte de um testemunho da arte do final do século XIX e início do século XX.
Pra que a gente entenda a importância de Almeida Júnior para arte brasileira de modo geral, é preciso entender o que estava acontecendo no Brasil no campo das artes naquele período. No final do século XIX a arte no país se vê numa gangorra: de um lado, a pintura acadêmica, clássica, com temáticas e técnicas pré-estabelecidas. Do outro, o advento do romantismo, que reagia às regras e a todo aquele ideal acadêmico que se inspirava nos modelos greco-romanos. É nessa época que as obras de Victor Meirelles e Pedro Américo estão ascendendo, por exemplo. Ambos tratam de temas bem nacionais, como o célebre quadro Independência ou Morte, de Pedro Américo ou Batalha de Guararapes, de Meirelles. A pintura histórica é, como você pode imaginar, o tema favorito dos artistas acadêmicos - ou pelos menos, daqueles que os empregavam.
O diferencial de Almeida Júnior reside justamente nesse ponto. O artista deixou em segundo plano esse tipo de tema e se concentrou na pintura simples do povo do interior. Sua obra é, portanto, uma crônica visual, uma narrativa prosaica (e nem por isso menos poética) de uma determinada comunidade, num determinado período de tempo.
Sem entrar muito em detalhes na vida de Almeida Júnior - algo que com certeza num outro momento eu faço - vale dizer que ele entrou na Academia aos 19 anos de idade. Entre 1876 e 1882, ele viveu em Paris graças ao prêmio anual da instituição e depois de expor no Rio de Janeiro, voltou para o interior de São Paulo. Foi aí que ele produziu O Violeiro, certamente uma de suas obras mais marcantes.
Como quem tira um retrato, Almeida Júnior isola uma janela. O olhar do observador é atraído pelas rachadura de uma parede que já viu dias melhores. Elemento central da composição é o violeiro que intitula o quadro, e que de olhos fechados toca, enquanto ao seu lado a sua companheira, de lábios entreabertos se perde numa canção que poderia ser qualquer uma. Ela traz no pescoço um lenço, que parece ter a função de pano usado em tarefas domésticas e as roupas dos dois são simples, nada extravagantes. É como se aquele momento, de tão costumeiro, fosse um ritual de ambos, a hora da canção e da viola. Sempre que vejo esse quadro me pego pensando no que eles estariam cantando. E na importância desse encontro, que de tão corriqueiro, parece sagrado.
É importante destacar que embora Almeida Júnior tenha se ocupado das temáticas regionalistas e do retrato de pessoas comuns, isso só se tornou "regra" para o artista nos anos finais de sua produção. Apesar disso, essa atitude foi fundamental para lançar as sementes do que seria depois a arte moderna no Brasil, que desponta no começo do século XX.
Abaixo eu deixo um vídeo que faz parte do material que eu produzi pro curso História da Arte Brasileira e que mostra mais algumas das obras desse artista.
Até a próxima! ;)
Sobre o quadro O Violeiro:
Ano: 1899
Dimensões: 145cm x 97cm
Técnica: Óleo Sobre Tela
Localização: Pinacoteca de São Paulo
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